
ilustração: Athena&PLW [colagens digitais]
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O que você vai encontrar aqui
- 1 Introdução
- 2 A Agenda 2030 e a Nova Ordem Mundial: Entre Promessas e Paranoias
- 3 Mas Então Por Que Manter essa Categoria no Blog?
- 4 As Críticas à Agenda 2030: de Onde Vêm e para Onde Apontam
- 5 ODS como Linguagem Comum para Quem Quer Agir
- 6 Sim, Fazemos Coisas Boas (e Ruins) Sem a ONU Nos Dizer Nada
- 7 Conclusão
Introdução
Agenda 2030: quando uma agenda global divide opiniões
Lembrete: estamos apostando no contraditório! Ler apenas o próximo parágrafo seria como tentar pegar uma moeda incrustada na calçada: você vê um lado, mas não pode pegar e ver o outro lado da moeda, — que seria poder usufruir da mesma. Este artigo não é um pote de moedas no final de um arco-íris — mas, mantendo a metáfora, sim, elas estão aqui no ar, tilintando!
Em tempo: a Agenda 2030 é um plano de ação global coordenado pela ONU e adotado por 193 países em 2015. Seu objetivo é enfrentar os principais desafios sociais, econômicos e ambientais do nosso tempo — e isso se dá por meio de 17 metas interligadas conhecidas como ODS: Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Clique aqui para saber mais sobre os ODS e como eles impactam sua vida.
Sustentabilidade: promessa ou suspeita? A palavra sustentável já teve dias melhores. Era sinônimo de esperança, inovação, responsabilidade. Hoje, para alguns, soa como clichê; para outros, como armadilha. Na verdade, a sustentabilidade entrou de roldão no centro desse turbilhão de expectativas e desconfianças que se tornou a Agenda 2030 — um plano ambicioso da ONU, aprovado em 2015 por 193 países, que tenta dar rumo ao futuro do planeta com 17 objetivos. Ambição, no entanto, costuma gerar suspeita. E a desconfiança… às vezes vem em forma de oposição sistemática — e, por que não, memes.
Um pacto planetário? Só se for supervisionado por alienígenas
Quando se propõe um esforço global para resolver problemas locais — de pobreza a biodiversidade — não é de se espantar que surjam teorias da conspiração, ironias, simplificações. Da extrema direita à esquerda antissistêmica, há quem veja na Agenda 2030 um cavalo de Troia tecnocrático, a serviço de grandes interesses (E a paranoia não vem do nada: de certa forma, está correta — porque quem detém o poder, sempre tenta se servir de tudo. O problema está na superamplificação do alcance e na cegueira seletiva que isso produz). E há também quem prefira rir da ONU do que tentar entender o que ela tenta fazer.
Rebatendo fake news com lógica e humor sutil ou uma conversa sem dogmas, mas com direção
Tem quem diga que a Agenda 2030 é comunista — mesmo sendo apoiada por bancos internacionais. Tem quem jure que é satânica — mesmo tratando de saneamento básico e educação infantil. Essas paranoias tendem a travar o diálogo, bloqueiam a escuta e impedem que boas ideias sejam aprimoradas. Aqui no blog, escolhemos outro caminho: o do pensamento plural, o da ironia afetuosa e o da ação possível.
Este artigo não vem defender a ONU com unhas (postiças ou não) e dentes (e nem dentadura ou na banguela). Nem a Agenda 2030 como salvação definitiva. Vem propor outra coisa: que a gente encare esse tema com mais nuance, mais escuta e, quem sabe, mais ação. Vamos ouvir e tecer críticas — e algumas merecem ser ouvidas. Mas também queremos mostrar por que, aqui no blog, escolhemos manter essa pauta aberta. Porque nem tudo está fora da ordem. E, se está, a gente quer entender o porquê — e como consertar.
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A Agenda 2030 e a Nova Ordem Mundial: Entre Promessas e Paranoias
O que é essa tal de Nova Ordem Mundial?
O termo Nova Ordem Mundial não surgiu no WhatsApp. Ele tem uma longa trajetória na história geopolítica. Apareceu com força três vezes no século XX:
- Após a Primeira Guerra Mundial (1919), com o Tratado de Versalhes e a criação da Liga das Nações;
- Após a Segunda Guerra Mundial (1945), com a fundação da ONU e o início da Guerra Fria;
- E em 1988, Gorbachev em plena Glasnost (transparência) e na Perestroika (reestruturação) e antes mesmo da queda do Muro de Berlim (1989), falou com todas as letras que estávamos entrando numa Nova Ordem Mundial. Com certeza, ele estava tentando reconfigurar o papel da URSS no mundo. Era um momento em que os blocos ideológicos começavam a ruir e uma nova linguagem geopolítica se anunciava — ou seja, uma expressão que marca mudanças profundas nas relações de poder globais, e que ainda ecoa no século XXI.
- Mas, com o tempo, esse conceito foi ressignificado por narrativas conspiratórias — especialmente após 1990, quando o então presidente dos EUA, George H. W. Bush, também passou a usá-lo como símbolo de um mundo unipolar sob hegemonia americana.
O Caetano Veloso e a contraordem sensível
Alguma coisa está fora da ordem… fora da nova ordem mundial Em 1991, quando Caetano Veloso lançou Fora da Ordem, o mundo estava mudando. A Guerra Fria havia terminado (que numa hora ou outra, infelizmente é requentada). A globalização parecia irresistível. Mas algo ali já dava sinais de que a promessa de uma ordem global justa era, no mínimo, frágil.
Caetano canta: Alguma coisa está fora da ordem, fora da nova ordem mundial.
E repete no refrão como um mantra. Como um alerta. Como uma ironia. Porque o que se vendia como nova ordem estava mais para uma reorganização do mesmo jogo, com velhos podres poderes e novas desigualdades. A canção mistura ruína e beleza, opressão e desejo, como se dissesse: Não há ilusão sem desejo. Não há domínio sem narrativa. Não há teoria da conspiração sem um fundo de desconforto com o mundo real.
A Agenda 2030 como parte da bagunça — e talvez da resposta
E onde entra a Agenda 2030 nisso tudo? Infelizmente, a Agenda 2030 virou personagem nessa batalha simbólica. Passou a ser acusada, por setores da ultradireita global e da esquerda antissistêmica, de ser uma ferramenta da nova ordem mundial — aquela da distopia: controladora, antidemocrática, globalista no mau sentido.
Mas não há nada disso nos ODS. Há diretrizes para erradicar a fome, combater a pobreza, garantir educação e equidade, proteger o planeta. Tudo isso com base em consensos internacionais, construídos a partir de compromissos multilaterais.
Claro: é legítimo desconfiar de instâncias internacionais. Mas confundir diretrizes sustentáveis com controle mental é perder a chance de discutir o que realmente importa: como construímos um futuro habitável?
Continuando com Caetano: Eu não espero pelo dia em que todos os homens concordem / Apenas sei de diversas harmonias bonitas / Possíveis sem juízo final.
A Agenda 2030 não precisa e nem deve ser aceita como dogma. Mas pode ser escutada como uma dessas harmonias. Possível. Necessária. E imperfeita, como tudo que é humano.
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Mas Então Por Que Manter essa Categoria no Blog?
Porque não somos ingênuos: reconhecemos os limites
Não estamos aqui para vender sonhos prontos e nem para aplaudir metas inalcançáveis. Sabemos que a Agenda 2030 tem seus tropeços, seus furos, seus vazios. Sabemos que ela corre o risco de se tornar um slogan bonito em relatórios de governo. E ainda assim, escolhemos falar dela — não por ingenuidade, mas por entender que reconhecer os limites é o primeiro passo para superar esse estado de coisas.
Mas também não nos fechamos ao possível: acreditamos em referências que orientem ações
E convenhamos, há dois caminhos, o institucional que se dá pela Agenda 2030 refletida nas cartas específicas dos países e o da ação individual somada espaçadamente, seja que a soma se dê em na sua casa, na sua rua, na sua cidade… enfim no planeta.
Pois a Agenda 2030 não depende apenas das instituições. Ela se cumpre também no entrelaçamento do global com o local, do gesto individual com a política pública, do planejamento estratégico com o improviso do cotidiano. Apoiar essa agenda é jogar o jogo democrático global, sim — mas varrer a calçada, apoiar uma horta comunitária, mudar o que comemos ou como nos locomovemos, também é. A soma conta e o que é melhor, ela multiplica. E é dela que o planeta precisa.
Entre o ceticismo paralisante e o otimismo raso, existe um meio do caminho: o compromisso com o possível. Não nos iludimos, mas tampouco deixamos de sonhar. Seguimos confiando em referências que orientem o gesto, o projeto, o cotidiano. A Agenda 2030 pode não ser a resposta final, mas é uma bússola — e em tempos turbulentos, até uma bússola imprecisa é melhor do que andar em círculos.
A Agenda 2030 como bússola ética e prática
Ela nos ajuda a organizar prioridades. A lembrar que pobreza, fome, desigualdade, clima e educação estão entrelaçados. A perceber que sustentabilidade não é uma aba lateral do mundo, mas seu centro em crise. Se cada texto, cada ideia e cada ação que publicamos aqui tocar, ainda que de leve, uma dessas dimensões, então manter essa categoria faz sentido. E mais: é um gesto de aposta — não no sistema como ele é, mas no mundo como ele ainda pode vir a ser.
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As Críticas à Agenda 2030: de Onde Vêm e para Onde Apontam
Críticas legítimas: quando o problema não é a ideia, mas sua execução
- Dificuldade de transformar metas em políticas públicas concretas.
- Lentidão e burocracia das instituições internacionais.
- Adesão protocolar de muitos governos — há países que assinam com uma mão e desmatam com a outra, por exemplo.
- Escassez de verbas efetivamente destinadas à Agenda 2030.
- Falta de métricas comuns, proporcionais e justas.
- Ausência de compromissos realmente vinculantes.
- E talvez a mais desconcertante: faltam apenas cinco anos para o prazo final — e ainda há muito mais discurso que ação, ou seja, ainda patinamos no aquecimento.
A ONU propõe — mas os meios, muitas vezes, não acompanham os fins. E sim: isso gera frustrações legítimas.
Críticas distorcidas: quando a imaginação vira paranoia
Por outro lado, há quem veja na Agenda 2030 um plano de dominação global orquestrado por uma elite secreta que quer controlar desde sua geladeira até seus neurônios. Fake news e vídeos alarmistas que pipocam aos montes: dizendo que ela é comunista, capitalista, satânica, alienígena ou tudo isso junto. É o momento em que a crítica deixa de ser construtiva para virar desinformação — e aí, o que poderia ser um debate democrático vira meme de WhatsApp.
O paradoxo da boa intenção institucional: entre metas nobres e entraves reais
A Agenda 2030 é, ao mesmo tempo, inspiradora e limitada. Representa um esforço coletivo raro em tempos fragmentados — uma tentativa de dar rumo a um barco com muitos capitães. Mas sofre do paradoxo clássico das boas intenções institucionais: quer salvar o mundo, mas esbarra nos mundos particulares de cada país, em cada lobby, cada eleição. Isso a torna ineficaz? Não. Mas exige de nós mais do que fé ou descrença: exige vigilância, ação e crítica lúcida.
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ODS como Linguagem Comum para Quem Quer Agir
Os ODS não são perfeitos — mas são uma forma de tradução global de boas práticas
Em um mundo marcado por disputas narrativas e interesses divergentes, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) funcionam como uma linguagem comum. Não são uma solução mágica, mas oferecem um vocabulário compartilhado para quem quer transformar boas intenções em ações concretas. São como um alfabeto da sustentabilidade: nem todo mundo o escreve do mesmo jeito, mas todos podem se entender melhor por meio dele.
Você já contribuiu para a Agenda 2030 mesmo sem saber
Se você já plantou uma árvore, economizou água, separou lixo, defendeu alguém de um preconceito, apoiou a educação ou cuidou da saúde de alguém — parabéns, você já deu passos rumo aos ODS. Mesmo sem usar a sigla, sem ter lido os 17 objetivos em ordem, ou tendo se identificado apenas com alguns — ou até apenas um.. Porque a Agenda 2030 não é um clube exclusivo, e sim um convite aberto para quem já está fazendo a diferença, mesmo que em pequena escala.
Um gesto puxa o outro. E quando nos vemos cercados por quem também planta, cuida, compartilha — a soma vira rede, e a rede começa a multiplicar.
Sustentabilidade precisa de nomes, objetivos e conexão entre atores
Sem palavras, não há ponte. Sem metas, não há direção. E sem rede, não há mudança que se sustente. Os ODS cumprem esse papel: aproximam causas, setores, territórios. Dão nome aos desafios, organizam a urgência, convocam à colaboração. E se às vezes parecer que tudo está meio fora do eixo — como num strike de boliche planetário (onde nós e os ODS somos os pinos) — talvez seja hora de ajustar a mira, revisar as regras… mas seguir jogando. Porque o jogo da sustentabilidade não pode parar.
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Sim, Fazemos Coisas Boas (e Ruins) Sem a ONU Nos Dizer Nada
A Agenda 2030 não é receita de bolo, é um mapa
Não há passo a passo infalível. A Agenda 2030 não promete soluções prontas, mas oferece coordenadas. É um mapa — daqueles que não indicam só o caminho mais curto, mas mostram também os abismos, as pontes, os lugares esquecidos e as rotas que vale (ou não) percorrer. Como todo bom mapa, ela depende de quem lê, interpreta e decide caminhar.
A Carta da Terra e outras bússolas possíveis
Antes mesmo da Agenda 2030, existia outro documento que propunha uma transformação planetária: a Carta da Terra
. Nascida de um processo participativo global iniciado nos anos 1990, a Carta foi construída por organizações civis e pensadores do mundo todo — sem o carimbo direto da ONU.
Mais do que metas mensuráveis, ela propõe princípios éticos: respeito à vida, justiça social, paz, democracia participativa e integridade ecológica. Ela não é um plano de voo com etapas e checklists, mas uma espécie de bússola emocional que aponta o sentido — mesmo quando o caminho está encoberto.
Se a Agenda 2030 tenta negociar com os sistemas que já existem, a Carta da Terra acena para uma transformação mais profunda e cultural. São abordagens complementares: uma atua institucionalmente, a outra inspira pela via ética e comunitária.
Muita coisa boa é feita fora do alcance da ONU — e muita coisa ruim também
Nem tudo são metas abstratas ou discursos diplomáticos. A Fiocruz, uma das instituições científicas mais respeitadas do Brasil, firmou um Pacto pelo Desenvolvimento Sustentável com base nos ODS. Isso significa alinhar pesquisa, políticas públicas e ações diretas aos objetivos da Agenda 2030.
A iniciativa mostra que os ODS podem, sim, sair do papel — quando há vontade política, compromisso institucional e conexão com a sociedade.
Projetos como esse demonstram que não se trata apenas de seguir a ONU, mas de agir localmente com responsabilidade global.
E nem tudo que transforma o mundo nasce sob um selo oficial. Projetos comunitários, inovações locais, ações espontâneas: muito do que realmente importa não precisa de carimbo institucional. Da mesma forma, muitos retrocessos vêm de quem ignora ou sabota esses acordos globais — inclusive com discursos bonitos. O problema não é a ONU dizer ou não o que fazer. O problema é quando fingimos que não sabemos o que precisa ser feito e/ou ainda fazemos ao contrário do que deve ser feito.
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Conclusão
Nosso apoio à Agenda 2030 não é à ONU, é ao planeta
Não defendemos a Agenda 2030 por fidelidade institucional, mas porque ela aponta questões que importam — e muito. Defender água limpa, ar respirável, comida justa, cidades habitáveis e igualdade de oportunidades não deveria ser motivo de controvérsia. Se for, talvez o problema não esteja na agenda, mas no espelho que somos nós.
Também não é sobre desacreditar a ONU. É sobre não terceirizar a responsabilidade. O planeta não será salvo por resoluções de plenário (sim, é importante que elas existam e mais importante que sejam implementadas). E nem será salvo sem referências éticas, metas compartilhadas e cooperação internacional. A ONU não é perfeita — mas jogar o jogo democrático global através dela faz parte da soma dita anteriormente quando nos referimos a países.
Usamos essa categoria no blog como um espaço de debate, inspiração e crítica construtiva
Aqui, a Agenda 2030 não é dogma nem panfleto. É um território de conversa: para questionar, propor, pensar junto. Valorizamos o pensamento crítico, mas também a ação crítica (no caso, é a ideia central desse texto) — aquela que não só aponta falhas, mas ajuda a costurar caminhos. Com humor, com seriedade e, às vezes, com certa ironia afetuosa, vamos abrindo espaço para o possível.
O futuro que queremos começa aqui — e cada passo importa, mesmo quando a estrada é torta
O ano de 2030 pode (e provavelmente vai) chegar sem que todas as metas tenham sido cumpridas. Mas isso não invalida a caminhada. Cada gesto, cada mudança de rota, cada escolha mais consciente é um passo fora do círculo vicioso. O que importa, no fundo, não é só onde chegamos — mas como decidimos caminhar.
Obrigado pela sua companhia — e, se quiser, junte-se a nós curtindo, comentando ou compartilhando. Afinal, cada passo conta… e reconta, muito além da conta, que é o que realmente conta!
Comments
Muito bom o texto! Com a nova ordem de Trump parece que a ONU vai virar outra coisa e a agenda 2030 ficará nas mãos daqueles que de fato tem interesse nos tópicos do ods. Ou seja, teremos que arrancar a vida com a mão, como fiz o Caetano em “Gente”
Author
Mingo, tudo bem? Valeu pelo comentário! Pois é, essa nova (des)ordem anunciada lá do Norte coloca mesmo a ONU numa encruzilhada, e não só ela, pois OMS, OTAN, OMC… todas parecem na mira (e o verbo infelizmente não é força de expressão). Os EUA ainda são o maior financiador da ONU, mas a relação anda tensa sim…
Enquanto isso, os ODS seguem como ponto de convergente de apoio com acordos, relatórios, mobilizações — e, mais do que nunca, resistência. Se faltar grana por lá, resta saber como o mundo se reorganizará… ou se conseguiremos reorganizar o mundo com toda essa animosidade solta…
E sim, Caetano tem razão: tem hora que é preciso arrancar a vida com a mão. Gente continua sendo o centro do palco e como diria Maiakovski de Caetano: gente é pra brilhar, não pra morrer de fome. E se o jogo apertar, a trilha pode mesmo virar Podres Poderes…
Eu tinha lido o artigo do blog e muitas coisas me vieram à cabeça. Em especial, sobre a desinformação da qual somos vítimas. Hoje em dia, por exemplo, para ficar num único aspecto, todos estão falando de carro elétrico. Todo mundo acha que é a solução para a mobilidade “ecoamigável”. Mas eu vejo, em primeiro lugar, que cada um só enxerga o que quer. A Noruega, por exemplo, já está com 83% de sua frota elétrica e está a ponto de eliminar a venda de carros novos a combustão. O Canadá vai proibir a venda de carros a combustão a partir de 2035. Parece limpo e lindo, né?
Infelizmente, não é!
O carro elétrico na verdade veio antes mesmo do etanol (primeiro carro a combustão), benzina (gasolina) e diesel. Só para fins de complementação, antes do carro elétrico havia experimentos com gás, que não se mostraram muito práticos à época. Aliás, praticidade, conveniência, interesses comerciais e políticos, além de, claro, custos, infraestrutura e desempenho é que definem a popularização de uma tecnologia.
Voltando então ao carro elétrico, que é a crista da onda hoje em dia, o que, do meu ponto de vista, está acontecendo é que os países estão “exportando” os danos ecológicos, empurrando a sujeira das suas calçadas para as calças dos outros.
O dano ambiental, a chamada pegada ecológica, ou, se preferirem, a pegada de carbono, é muito maior no veículo elétrico do que no veículo a combustão. Ainda mais quando se compara o elétrico ao etanol.
O carro elétrico já morreu três vezes na história, sempre pelo mesmo problema. Sim, hoje as pesquisas de baterias e materiais está muito mais avançada do que o que havia nos primórdios, mas o problema continua exatamente o mesmo: enormes, pesadas, de curta autonomia…
Parece que o mundo não está nem aí se a pegada de carbono estiver todinha na China. Desde que a poluição nas minhas cidades esteja controlada, que eu me dê bem, que se foda a China..
Quero dizer que tudo isso que estamos fazendo parece ser apenas uma vez mais, jogos de interesses comerciais, e não desejos reais de salvar o nosso planeta
Author
Dieter, tudo certo? Muito bom ter você por aqui com um comentário tão instigante!
Você toca em pontos cruciais, o da desinformação que vem feito enxurrada e acaba servindo interesses que se disfarçam de solução mágica. O caso dos carros elétricos é um exemplo emblemático: estão na crista da onda, mas com pegadas ecológicas muitas vezes varridas para debaixo do tapete… ou, como você bem diz, empurradas para as calçadas dos outros.
Seu comentário… quase um miniartigo sobre a problemática dos elétricos dentro da equação energética da mobilidade. E por coincidência ou sincronia, já estou preparando um texto sobre isso. Vou tentar enfrentar a equação (ou será que é um labirinto que desemboca num beco sem saída?) dessa mobilidade moderna que nasceu elétrica, morreu algumas vezes e agora volta prometendo mundos e fundos trazendo junto o plug da dúvida.
Fique por perto, e mais uma vez, obrigado por somar com lucidez e crítica.