BRICS as a Bricks (…Como Tijolos) Lado A

Paródia de jornal com título “Bloco desafinado ou nova sinfonia global?”, inspirada na capa do álbum Thick as a Brick e ambientada no Rio de Janeiro, com Drummond e um menino negro conversando.
Tabloide fictício A Unidade em Pixel ironiza a cúpula dos BRICS no Rio de Janeiro com humor sutil e crítica geopolítica. José Silva, o menino que previu a desdolarização, conversa com Drummond à beira-mar.
ilustração: Athena&PLW [colagens digitais]

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O que você vai encontrar aqui

Introdução da Introdução

Antes de tudo, um aviso: este artigo pretende ser uma tijolada — com carinho — no assunto dos BRICS. Dividido em Lado A e Lado B, como nos bons e velhos LPs, vem embalado por rock e cuíca diplomática, com acordes geopolíticos nem sempre afinados.

As más línguas dirão que fiquei com inveja do Thick as a Brick (cabeça dura como tijolo), a saga de um garoto de 8 anos que escreveu um épico. Pode ser, pode ser… Mas este aqui também tem seu — ou melhor, o nosso — menino: José Silva.

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Introdução

O Sul Global virou um jogo de montar: está funcionando?

Se a intenção dos BRICS é principalmente econômica, a pergunta é simples: está funcionando? Tá. E talvez esteja aí o motivo da gritaria.
Mas a gente sabe: economia não anda sozinha — está intrinsecamente ligada às áreas sociais e ambientais.
A aposta, no fundo, é essa: que a disparidade entre os membros se transforme em complementariedade — e que isso resulte no grande trunfo: o famoso ganha-ganha.

BRICS como blocos de montar: cinco peças grandes, díspares e pesadas do Sul global — e, desde 2024, mais peças no mesmo jogo. Cada uma com seu formato, encaixe e vontade própria. Não estamos falando de alinhamento perfeito, mas de um tabuleiro em que as peças se testam, se repelem e, às vezes — a ideia é essa — constroem juntas.

Thick as a Brick – flautistas e blocos de montar na diplomacia

Inspirado pela música do Jethro Tull, o bloco BRICS também é — e pode ser lido como — feito de tijolos-blocos de montar geoestratégicos: peças duras de encaixe impreciso, que desafiam a gravidade da diplomacia. As vezes a condução do grupo soa como o flautista de Hamelin tentando reger um desfile de egos e interesses. No BRICS quem sopra a flauta? A China? A Rússia saca uma balalaica? O Brasil entra na pista com cuíca e tamborim? A Índia dedilha uma cítara ou flauteia a naja no cesto? A África do Sul marca o ritmo com tambores — e, nos bastidores, ainda com tamancos?

Mas a pergunta permanece: quem dita o ritmo? Há um maestro visível ou apenas um grupo de solistas tentando não sair do tom?

Alianças à torta e à direita, pragmatismo e a perna manca da sustentabilidade

A expansão dos BRICS reflete, antes de tudo, uma aliança pragmática de interesses econômicos e geopolíticos. O foco fundacional do grupo — economia entremeada de política na base da cooperação — se fosse lido pelo tripé da sustentabilidade, teria a perna econômica sustentando o peso todo. O pilar social, tantas vezes citado nas declarações do BRICS, ainda balança quanto à liberdade de expressão, direitos civis e desigualdade. Já o ambiental ocupa um curioso espaço neutro: afinal, ninguém quer ser acusado de ignorar o colapso climático — mesmo que o compromisso real continue pra lá dos discursos.
Em meio a regimes democráticos e autoritários, o bloco caminha entre contradições, alianças estratégicas e declarações negociadas linha por linha.

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Curiosidades Musicais e Dançantes: Cada Um com Seu Som, Cada Um no Seu Tom

O flautista de Hamelin e a cabeça dura como tijolo do Jethro Tull

Inspirado na icônica canção Thick as a Brick (algo como cabeça-dura como um tijolo) da banda britânica Jethro Tull, este bloco ampliado dos BRICS lembra uma construção que cresce com materiais díspares. A música, recheada de ironia e introspecção, poderia muito bem embalar a marcha geopolítica de países que se seguem uns aos outros — não por harmonia, mas por interesses, conveniência ou pura inércia de tábua de salvação.

A imagem do Flautista de Hamelin —ressurge aqui como metáfora: no caso pode ser qualquer instrumento característico (de flautas a cítaras, tambores a balalaicas, cuícas e tamborins a angklung, qanun e oud — correspondentes árabes a cítara e ao alaúde — como metáfora desse poder hipnótico de conduzir nesse novo BRICS+.

Thick as a Brick inspirando o BRICS as a bricks

Saem os cabeças duras da saga do Jethro Tull, se servir a carapuça… entra os dos BRICS.

A China, com seu poderio e silêncio estratégico? A Rússia, com suas investidas autoritárias? O Brasil, pleiteando liderança ambiental com esperança de que o bloco dance ao som da diplomacia e da Amazônia?

Ou será que ninguém de fato conduz — consenso induz parceria sem pressão? — e o bloco segue em frente como uma procissão sonora, cada um batucando seu próprio compasso?

Essa música como diriam hoje, é uma verdadeira saga: 22:40 min de duração, contando a história de um menino gênio e seus dilemas, estampada em um jornal fictício — The St. Cleve Chronicle & Linwell Advertiser que vinha de encarte no LP.

Aproveitarei alguns trechos da canção ao longo do texto (com tradução do site Letras, onde quem se interessar pode ouvir, de novo ou pela primeira vez).

https://www.letras.com/jethro-tull/19904/traducao.html

(Se for, volte que tem mais por aqui!)

Primeiro, um revival pessoal que muita gente vai lembrar: fita cassete e bic

Ganhei o LP de uma amiga muito querida, lá pelos anos 80 — infelizmente, perdemos o contato. Ainda guardo a bolacha com carinho… pena que a versão lançada por aqui não tinha o famoso encarte de 12 páginas (numa edição comemorativa mais recente — e mais salgada também — o encarte foi incluído). O encarte era uma paródia dos tabloides locais de Londres, repleto de detalhes visuais e narrativos.

Foi justamente essa capa que fotografei (a imagem aparece logo abaixo) e usei de base para fazer a minha própria paródia. E da letra da música retiro alguns trechos (usando a tradução do site Letras) fora do contexto da proposta do disco usando ao meu bel-prazer:

And say that it’s a shame
Spin me back down the years
And the days of my youth

E diz que isto é uma pena
Rebobina-me de volta aos anos
E aos tempos da minha juventude

Esse rebobinar ao passado, não remete de cara o das fitas de vídeo, mas das fitas cassete rodando nas canetas Bic, como se fosse um brinquedo da infância, a catraca, rebobinando a fita, as vezes após um conserto com durex. Agora rebobinar fita de vídeo pra devolver pra locadora… nem me lembre…

(Depois da sessão nostalgia, ao que interessa aqui…)

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Quase Uma Fake News (só que não, dupla!)

Gerald Bostock e José Silva: dois meninos, dois dilemas

A canção conta a história fictícia — mas com o jornal falso encartado, muita gente pensou que o fato era real — de que um garoto que escreveu um poema épico aos oito anos, chamado Gerald Bostock, mas foi desclassificado. A saga de seu crescimento é narrada em versos poéticos cheios de críticas sociais afiadas e ironias pops, onde ele enxerga duas opções possíveis carreiras: ser artista ou um soldado de guerra, como seu pai é o seu dilema — provavelmente ecos do momento mais crítico da Guerra do Vietnã, quando mais de 500 mil soldados foram enviados e os bombardeios se intensificaram.

See there, a son is born
And we pronounce him fit to fight
There are blackheads on his shoulders
And there he pees himself in the night
We’ll make a man of him
Put him to trade
Teach him to play Monopoly
And how to sing in the rain

Veja lá! Um filho nasceu
E decretamos que ele está apto a lutar
Há cravos em seus ombros
E ali ele se mija à noite
Faremos dele um homem
O colocaremos no comércio
Ensinaremos a jogar Monopólio
E como cantar na chuva.

Esse último verso é peculiar — entrou na chuva, é pra se molhar.
Então, o que resta? É cantar!

Se na ilustração se o textinho da manchete não está legível : leia abaixo

Garoto de 8 anos previu a desdolarização em redação escolar e foi desclassificado

José Silva, um garoto de apenas 8 anos na sua redação da escola previu a desdolarização e ainda citou a nova moeda dos BRICS, a Unidade, cunhando a palavra unidização e afirmou que no seu trabalho de guia, onde leva os turistas para falar com o poeta, Carlos Drummond de Andrade, que ele faz questão de dizer o nome completo, só receberá de agora em diante em Unidade. Foi desclassificado porque um professor alegou que José Silva deveria estar estudando e não trabalhando com essa idade.

Tá certo, José Silva, não devia trabalhar nessa idade não!, porém aqui fica o impasse, deveria ser então desclassificado?

E José Silva inconformado foi reclamar ao seu mentor, pois ele diz ter sido alfabetizado pelo poeta depois que ganhou um livro de poemas de Drummond dado por uma turista que ficou encantado com o menino. Sabia tudo sobre ele. Ao contrário dos mineiros que desejam ir para o Rio de Janeiro, José quer ir para Minas, para Itabira. Ele crê que o poema José foi feito pra ele… e na verdade ele tem razão! O poeta consolou o menino recitando um poema de Cecília Meireles Ou isto ou aquilo:  


Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!…

…É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!…

…Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo

José Silva se alegrou, abraçou o poeta e foi logo fazer… ou isso ou aquilo. Pois ainda é um menino, mas logo esse dilema também crescerá, será pedreiro como seu pai ou será poeta?

Ou seja, terá que escolher entre o tijolo e o poema — ou então, construir versos com as próprias mãos?

A Flauta Musical Hipnótica de Ian Anderson

Já ouviu Aqualung? O álbum mais famoso do Jethro Tull, lançado em 1971, virou clássico — e não é à toa. A banda inglesa, formada em 1967, misturava rock com pitadas de folk, jazz e progressivo, tudo isso conduzido pela figura inconfundível de Ian Anderson, no vocal e na flauta. Uma flauta que mais parecia mágica, quase uma extensão do flautista de Hamelin.

Aliás, Thick as a Brick — de 1972 — soa em várias partes como uma trilha meio, me siga!, capaz de arrastar muita gente atrás do flautista. E por que não pensar nisso como uma metáfora do BRICS? Ou, mais amplamente, dessas alianças em que alguns tocam a melodia principal (com mais poder de fogo), enquanto os outros vão atrás, como pipocas… com autonomia, claro!

Ah, e em 2012, Ian lançou a continuação: Thick as a Brick II. O que aconteceu com o garoto da primeira saga? Eu não sei. Se você souber, por favor, conte nos comentários.

Capa original do LP Thick as a Brick da banda Jethro Tull com jornal fictício e vinil
Esse é o LP do Jethro Tull, Thick as a Brick, que ganhei de uma querida amiga nos anos 80… A capa traz a manchete JUDGES DISQUALIFY ‘LITTLE MILTON*, sobre o fictício Gerald Bostock — um garoto de 8 anos autor de um poema épico. O disco mistura rock, letra poética e crítica social, e acabou servindo de inspiração tanto para o texto quanto para ilustração/paródia para o artigo BRICS as a Bricks.
* No jornal… tabloide/capa do LP, chamaram o menino de o pequeno Milton, comparando com o grande poeta inglês, John Milton que escreveu seu poema épico, Paraíso Perdido no século XVII
Foto: PLW

Quem é que toca, dita o ritmo e a direção?

Quem sopra a flauta: a China? A Rússia saca uma balalaica? O Brasil entra na pista com cuíca e tamborim? A Índia dedilha uma cítara ou flauteia a naja no cesto? A África do Sul marca o ritmo com tambores — e, nos bastidores, ainda com tamancos?

Mas a pergunta é: quem dita o ritmo? Há um maestro visível ou apenas um grupo de solistas tentando não sair do tom?

A metáfora musical revela os encontros e desencontros: as monarquias do Golfo afinam em outra frequência, a África do Sul ainda luta para equilibrar passado e futuro, e o Brasil samba entre a diplomacia e a hesitação. Enquanto isso, o mundo observa, tentando decifrar a melodia — ou o ruído — dessa sinfonia verde e geopolítica.

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Uma Construção de Tijolos Desiguais – Comparativo Entre os Países Membros

Tabela visual com os dados de emissão de CO₂, PIB, população, território, regime de governo e poder militar

Os BRICS, agora com 11 membros, são como grandes blocos de montar, coloridos e de formatos variados. Têm potencial para formar uma construção sólida, mas os encaixes ainda desafiam os engenheiros geopolíticos. A tabela abaixo resume essas diferenças:

Tabela comparativa dos países BRICS+ e observadores – dados principais (2023/2024)

Emissões CO₂ (Gt)PaísPopulaçãoPIB (US$ trilhões)Renda per capita (US$)Regime políticoPoder militar (ranking GFP 2024)
11,5China CN1,41 bi17,70012.540Regime de partido único
2,9Índia IN1,43 bi3,7322.610Democracia formal/
defeituosa
1,7Rússia RU144 mi2,24013.680Autocracia
0,7Irã IR89 mi0,4054.890Teocracia/autocracia17º
0,7Indonésia ID277 mi1,3935.050Democracia presidenc.13º
0,6Arábia Saudita SA36 mi1,11227.220Monarquia absolutista22º
0,5Brasil BR203 mi2,17910.410Democracia10º
0,5África do Sul ZA60 mi0,3996.770Democracia (com desafios)33º
0,3Egito EG110 mi0,4754.370Autoritário14º
0,2E.A. Unidos EA10 mi0,49847.660Monarquia autoritária56º
0,02Etiópia ET126 mi0,1131.270Autoritário49º

Fontes dos dados:

  • PIB (2023): estimativas finais consolidadas de FMI, Banco Mundial, OCDE e World Economics (média ajustada com arredondamento padrão para 3 casas decimais).
  • População e renda per capita: Banco Mundial, dados atualizados em 2024.
  • Emissões de CO₂: Global Carbon Atlas e IEA (2023).
  • Ranking militar: Global Firepower Index 2024.
  • Regime político: análise cruzada baseada em Freedom House, The Economist Intelligence Unit e classificações acadêmica

Se você veio do Lado B só pra espiar a TABELA : clique aqui e volte para lá sem se perder no caminho!

Curiosidade (eu não sabia!):

ZA vem do holandês Zuid-Afrika, que significa justamente África do Sul. Esse código resistiu ao tempo e segue sendo usado internacionalmente até hoje como domínio de internet (.za), placas de carro e códigos da ISO, carregando camadas de história, diversidade linguística e a complexidade do próprio país — onde onze línguas são oficiais e a reconciliação com o passado caminha junto com a construção do futuro.

Siglas como bloquinhos de montar: por que BR é Brasil e CN é China?

Os códigos de duas letras usados no artigo (BR, CN, IN, etc.) vêm da norma internacional ISO 3166-1 alpha-2. Eles funcionam como pequenos blocos de identificação — simples na aparência, mas cheios de história.
CN, por exemplo, representa China, pois CH já estava em uso pela Suíça (Confoederatio Helvetica).
IN identifica a Índia, enquanto ID é da Indonésia.
ZA, como vimos, é Zuid-Afrika (África do Sul), e não AS, que ficou com Samoa Americana.
RU é a Rússia, e RS pertence ao Senegal (République du Sénégal).
Essas siglas parecem bloquinhos de montar com letras — e quando se encaixam num mapa, formam um quebra-cabeça geopolítico que vai muito além do alfabeto.

Curioso mesmo é que as vezes as siglas não são regidas pelo que seria lógico linguisticamente, mas é culturalmente

Siglas iguais necessitavam diferenciação, seria uma espécie de dança das cadeiras? Em algumas siglas o que perecia ser o mais lógico, não é, pois desaparece por vezes diante da não lógica que não deriva da linguística e sim da cultura. Interessante, não é? Ah!, você estava lendo o Lado B? Bora voltar pra lá? Exatamente de onde parou então, clique aqui!

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Especulando Deduções da Tabelinha

Tamanho é documento? Renda per capita: o número que separa os blocos.

Nem sempre tamanho é documento. Veja o contraste: a China é gigante em tudo, mas a Etiópia, com população parecida à do Egito, tem um PIB quatro vezes menor. Já os Emirados Árabes, minúsculos em terra e gente, ostentam uma renda per capita digna de país escandinavo.
E na per capita, enquanto uns passam de 20 mil dólares por cabeça, outros mal chegam a 2 mil. PIB não é tudo: importa quanto chega no prato (e no bolso) de cada um.

Quem manda em casa? Soft e hard power.

Quem já não ouviu: Na minha casa mando eu! Cada um do seu jeito: alguns foram eleitos (com ou sem aspas), outros herdaram o trono, há quem dependa de um partido e quem dispense cerimônias — aqui mando eu. Esses estilos de governo moldam o cotidiano: controle estatal forte, censura, repressão a opositores e violações de direitos de minorias ainda são regra em boa parte dos membros.

Rússia, China e Índia lideram com folga nos gastos militares. Os demais membros também pisam firme na marcha. No tabuleiro global, o soft power encanta — a China quer fazer mais filmes, Bollywood que se cuide — mas o hard power ainda pesa… inclusive no pesadelo atômico.
A Índia é o outro membro dos BRICS+ que possui armas nucleares declaradas, embora em escala bem menor.

Carbono não mente — mas pode constranger.

China e Índia lideram as emissões, o que até faz sentido pelo tamanho das economias. Mas isso não isenta ninguém da responsabilidade histórica. No fim da fila, Etiópia e Emirados — por razões opostas: um pela pobreza estrutural, outro pela compensação em verde-importado.
Apesar da expansão em número e território, o bloco continua fragmentado em prioridades, regimes, economias e atuações globais.
A China e a Índia somam quase 3 bilhões de pessoas. Os Emirados Árabes, por sua vez, têm menos habitantes que o município de São Paulo. O Brasil tenta preservar florestas — e também derruba muitas. O Egito busca protagonismo regional, enquanto a Etiópia ainda tenta sair da crise humanitária.
O bloco é diverso — e desigual. A pergunta que resta: dá para montar um projeto comum com peças tão diferentes?

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Principais Anúncios da Declaração Final (Rio de Janeiro, 2025)

Novos membros, novas molduras

O bloco confirmou a adesão plena de seis países: Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Indonésia.
Além disso, foram reconhecidos dez países parceiros com vínculos formais de cooperação: Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.

Uma ampliação ambiciosa, que projeta o BRICS como um polo geopolítico ampliado — mas que também amplia os desafios de coesão.

Paz, clima e digital: consensos possíveis (na superfície)

Os BRICS reafirmaram o compromisso com o multilateralismo, o respeito à Carta da ONU e a resolução pacífica de conflitos — embora alguns membros estejam diretamente envolvidos em guerras ou tensões regionais.
Apoiaram também a criação de uma governança digital que respeite a soberania nacional, os direitos humanos e evite a chamada “fragmentação da internet”.
Na questão ambiental, reafirmaram os compromissos com o Acordo de Paris e uma transição energética justa, ainda que com trajetórias distintas — cada um no seu ritmo, no seu combustível e no seu discurso.

Economia desdolarizada e sustentabilidade sob medida

Apoiaram os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), reforçando seu compromisso com a Agenda 2030 da ONU, ainda que cada país defenda o respeito à sua própria soberania na definição dos caminhos para alcançá-los.
No front econômico, avançaram nas discussões sobre sistemas de pagamento em moedas locais, apoio ao Novo Arranjo de Reservas (CRA) e à criação de plataformas de pagamento independentes — em linha com o projeto de desdolarização liderado por China e Rússia.
Por fim, reafirmaram o compromisso com a reforma das instituições de governança global, especialmente no que diz respeito à inclusão de países em desenvolvimento nas decisões do sistema financeiro internacional.

Esses pontos refletem uma tentativa de posicionar o BRICS como força alternativa no cenário global, sem abrir mão das autonomias nacionais — e costurando um tecido diplomático com muitas cores, texturas e direções.

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Conclusão

O som do tijolo: fim do lado A

Bloco em compasso irregular: nem sinfonia, nem ruído puro. O BRICS ampliado desafia definições fáceis. Não é bem um bloco coeso, nem uma colcha de retalhos improvisada. É mais como uma banda de instrumentos diferentes, ensaiando juntos sem maestro — será que todos sabem disso? Há batidas firmes, dissonâncias gritantes e momentos de pura improvisação. O som que sai disso tudo? Ainda em construção.

Contradições como matéria-prima (e não como defeito)

Os BRICS não escondem suas fissuras: diferenças de regime, de poder econômico, de prioridades ambientais e sociais. Mas talvez seja aí que more a potência do grupo — nas trincas que permitem diálogo, nas frestas onde cabe negociação. Como num jogo de montar, o que parece defeito pode virar peça de encaixe. Desde que haja vontade política, jogo de cintura e uma certa dose de cola sustentável.

O lado B da bolacha: dos andaimes aos acabamentos

Se aqui exploramos as fundações tortas e os ruídos musicais do BRICS, na segunda parte mergulharemos nos bastidores da declaração final de 2025, no tripé instável da sustentabilidade e nas tintas verdes que cobrem o concreto. Porque o bloco pode até ser feito de cabeças duras como tijolos (thick as a brick), mas ainda há espaço para abrir janelas. Siga conosco — cuíca afinada e lupa em punho — e vamos botar o lado B da bolacha para tocar!

Tijolaço II no ar! EM BREVE!

Se você achou que o primeiro já pesava na mochila geopolítica, espera só pra ver o que vem agora: o bloco dos BRICS tentando sustentar a si mesmo, com cimento verde no barulho de um mundo em reforma.

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