
ilustração: Athena&PLW [colagens digitais]
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O que você vai encontrar aqui
Introdução
Entenda o que são as COPs
COPs são eventos decisivos no combate às mudanças climáticas — claro que pode gerar muito descrédito e desconfiança fazer essa espécie de afirmação — mas afinal, o que é uma COP e por que ela importa?
COP é a sigla para Conference of the Parties, ou Conferência das Partes da Convenção – Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.
Traduzindo: é o grande encontro anual em que representantes de quase todos os países se reúnem para discutir como desacelerar o aquecimento global — de preferência antes que o planeta decida resolver sozinho essa parada. (que para o planeta, um cataclismo é até normal, mas para nós é sempre o caos)
Apesar das promessas solenes e discursos empolgantes, a COP às vezes se parece mais com uma reunião de condomínio planetário: todo mundo bate o pé, exige, mas ninguém quer pagar o boleto.
Berlim, 1995: o início da corrida climática
Foi na Alemanha que foi dada a largada oficial da primeira COP.
Desde então, foram criadas metas, acordos, relatórios e protocolos — mas o mundo real seguiu entre avanços, retrocessos e aquecimentos de bastidores.
Se fosse literalmente uma maratona, já estaríamos na 29ª edição ainda tentando sair da etapa do alongamento diplomático.
De compromissos a resultados: o que aprendemos (ou não) até agora
Aprendemos que salvar o planeta exige muito mais que assinar documentos em letras miúdas. (garrafais tampouco adiantaria)
Vimos o Protocolo de Quioto, o Acordo de Paris, as metas de carbono zero e a promessa de 100 bilhões por ano para países em desenvolvimento…
Mas também vimos florestas sendo queimadas enquanto discursos eram redigidos.
A impressão é que o aquecimento global está vencendo a corrida — e sem precisar de tênis de carbono reciclado.
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A COP em 5 Passos (para entender sem aquecer a cabeça)
Quem participa?
Praticamente todo mundo — são mais de 190 países-membro da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que incluem desde os grandes emissores, como China, EUA, Índia, Brasil e Rússia, até pequenos estados-ilha que, apesar de emitirem muito pouco, são os primeiros a sentir os efeitos do aquecimento global, como Tuvalu ou Maldivas.
Além dos representantes dos países (os “Partes”), participam também:
- Organizações Não-Governamentais
- Movimentos sociais
- Líderes indígenas
- Cientistas
- Observadores internacionais
- Empresários
- Uma boa dose de lobistas — discretos (nem sempre), mas sempre presentes
No fundo, a COP é um microcosmo da política global: interesses diversos, sotaques múltiplos, crachás coloridos… e uma ansiedade coletiva em tentar resolver algo enquanto o tempo (e o clima) perecem correr mais rápido que a pauta.
O que se discute?
Muita coisa, entre outras:
- A redução das emissões de gases de efeito estufa, como CO₂, metano e óxidos de nitrogênio.
- O financiamento climático, especialmente o compromisso de transferir recursos dos países desenvolvidos para os em desenvolvimento, para apoiar ações de mitigação e adaptação.
- O desenvolvimento e a transferência de tecnologias limpas, que possam substituir fontes poluentes sem comprometer o crescimento econômico dos países mais pobres.
- A preservação e recuperação de florestas tropicais e outros sumidouros de carbono naturais.
- A justiça climática, um conceito que reconhece que os impactos do clima não atingem todos da mesma forma, e que os mais vulneráveis são também os que menos contribuíram para o problema.
E, claro, há sempre o tema recorrente: Quem vai pagar essa conta?
Afinal, todas essas transições são necessárias, mas custam caro — e poucos querem abrir mão do lucro em nome da temperatura média do planeta.
E o que se decide
Agora chegamos ao centro da questão.
O que efetivamente se decide numa COP? Depende.
É como um pacto de ano novo: cheio de promessas, listas, metas ambiciosas — mas sem ninguém ali para verificar se, dois meses depois, você ainda está comendo menos carne ou usando bicicleta, ou seja, você faz a promessa e você que tem que dar conta de cumprir as mesmas.
Esses acordos são tecnicamente válidos, mas não têm força de lei. Cada país decide, dentro de suas políticas internas, se e como vai implementar o que foi acordado.
Por isso, os resultados são desiguais — e o ritmo da maratona climática global continua irregular: uns correm, outros andam, e alguns ainda estão procurando o tênis.
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COPs Marcantes: dos Aplausos aos Protestos
Quioto (1997): o primeiro passo firme
A COP3, realizada no Japão, foi o primeiro grande marco da diplomacia climática internacional. Lá nasceu o Protocolo de Quioto, um acordo que estabelecia metas obrigatórias de redução de gases de efeito estufa para países industrializados. A ideia era simples: quem poluiu mais historicamente deveria começar limpando a bagunça. Parece justo, né?
O protocolo foi assinado por muitos, mas a adesão prática foi bem menos empolgante. Teve quem assinou, quem torceu o nariz e quem saiu correndo — como os Estados Unidos, que primeiro assinaram, depois hesitaram, e por fim saíram pela porta dos fundos. (aqui cabe um artigo sobre os motivos e porque os EUA continuam indo nas COPs)
Apesar das limitações, o Protocolo de Quioto foi um primeiro gesto de compromisso real com metas, e abriu espaço para as COPs entrarem de vez no radar global.
Paris (2015): o acordo global da esperança
A COP21, realizada em Paris, foi um momento de rara convergência global. Pela primeira vez, quase 200 países se comprometeram a limitar o aumento da temperatura média do planeta a no máximo 2 °C, com esforços para não ultrapassar 1,5 °C.
Foi o auge do clima de esperança: líderes mundiais de mãos dadas, selfies diplomáticas, discursos apaixonados e promessas ousadas de zerar emissões até meados do século.
O problema, claro, é que o planeta não leu o PDF do acordo. Enquanto as promessas circulavam entre gabinetes e hashtags, as emissões continuavam subindo, florestas sendo desmatadas e termômetros batendo recordes.
Ainda assim, o Acordo de Paris é considerado uma conquista histórica — não tanto pelos resultados imediatos, mas por ter colocado todos na mesma página climática, mesmo que alguns países ainda estejam só lendo as notas de rodapé.
Glasgow (2021) e além: o clima de urgência
A COP26, em Glasgow, foi marcada por um tom mais grave e menos glamouroso com os cientistas dando alerta geral.
Relatórios indicavam que, mesmo com os compromissos assumidos até então, o mundo seguia rumo a um aumento de temperatura de mais de 2,4 °C.
Metas foram reafirmadas, prazos ajustados. Termos como phasing down (redução gradual ou diminuição) em vez de phasing out (eliminação progressiva ou retirada total) — especialmente no caso do carvão — geraram debates acalorados e críticas pela falta de firmeza.
Enquanto isso, fora dos auditórios, milhares de jovens, indígenas, cientistas e ativistas marchavam pelas ruas de Glasgow exigindo mais do que promessas, pois as metas continuaram sendo empurradas para 2030, 2050… ou 2077 — isso, claro, se o planeta ainda estiver de pé e com sinal de Wi-Fi para transmitir a conferência.
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O Papel (complexo) do Brasil nas COPs e os desafios na COP30
Entre o protagonismo e a contramão
O Brasil, com sua biodiversidade exuberante e potencial de liderança, sempre teve lugar de destaque nas COPs. Já foi articulador de consensos, anfitrião de debates importantes e defensor de mecanismos como o REDD+ — sigla para Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation, ou Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal. Na prática, é um modelo internacional que remunera países por manter suas florestas em pé, reconhecendo o valor ecológico de preservar — e não apenas explorar — seus recursos naturais.
Em outras palavras: já brilhou como país que podia ensinar ao mundo como crescer com verde.
Mas… também tropeçou. E não foi pouco. Nos últimos anos, o país oscilou entre protagonista da sustentabilidade e antagonista da ciência climática.
Enquanto o mundo pedia desmatamento zero, alguns discursos nacionais flertavam com o desmatamento necessário — uma espécie de paradoxo ambiental com gosto de fumaça.
A imagem do Brasil passou de guardião da floresta a zelador descuidado, ao trocar uma política ambiental robusta por discursos de progresso pouco sustentáveis. Mas como o mundo não pode simplesmente ignorar o país com o maior pedaço de floresta tropical do planeta, o Brasil segue — às vezes aplaudido, às vezes cobrado, sempre observado.
Amazônia no centro do debate
Quando se fala em clima global, a Amazônia entra na conversa sem nem pedir licença.
É o maior sumidouro de carbono terrestre do mundo, o coração úmido que regula chuvas e ventos em todo o continente. Se a floresta respira bem, o planeta tem chance. Se ela sufoca, a febre global sobe.
Por isso, nas COPs, a Amazônia é sempre tema quente — infelizmente, às vezes literalmente.
Enquanto se discutem soluções e metas nos auditórios, as queimadas seguem em ritmo acelerado, impulsionadas por grilagem, garimpo ilegal, estradas clandestinas e políticas ambíguas.
A boa notícia é que movimentos indígenas, organizações locais e comunidades tradicionais vêm ganhando cada vez mais voz nessas conferências, trazendo a urgência de quem vive no território — e não só no PowerPoint.
Expectativas para a COP30 (Belém, 2025)
A escolha de Belém como sede da COP30 foi uma virada simbólica:
Pela primeira vez, uma COP será realizada no coração da Amazônia brasileira.
É como se o planeta estivesse dizendo: Agora queremos ver de perto!
E isso traz uma responsabilidade imensa.
O mundo estará de olho não apenas nos discursos e painéis, mas no cheiro do ar, no som dos pássaros, no volume dos rios. Será uma chance histórica de o Brasil mostrar que está alinhado com o futuro — ou de deixar suas contradições darem o tom.
Se der certo, a COP30 pode ser o momento em que o Brasil retoma com firmeza o papel de líder climático global. Se der errado… bem, ao menos ninguém poderá dizer que não foi avisado.
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As falas, os Dados e as Entrelinhas
O discurso que aquece (mas não o planeta) — a COP como Espetáculo?
Discursos comoventes são entregues com a cadência certa, o tom embargado e, claro, a clássica invocação às futuras gerações.
Bonito de ver — até porque a retórica climática é, hoje, uma arte refinada. Mas as metas seguem sendo adiadas. Reduzir emissões? Sim, claro… mas a partir de 2030, quando a economia melhorar, quando houver mais dados, quando Marte for habitável…
Aparte à parte: Quem dera realizarmos o que o filósofo Hans Jonas já dizia — que a responsabilidade ética agora precisa mirar o futuro — não só como promessa, mas como critério de ação.
Afinal, como falar em cuidar de quem ainda virá, se o presente mal consegue proteger quem já está aqui?
A ciência como bússola (ou sirene)
No meio de tantas falas, há uma que não grita (não?), mas vibra forte: a da ciência.
Os relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) são como bússolas apontando para a urgência — e sirenes alertando para o risco.
Eles não são feitos de slogans, mas de evidências. Mostram o que já está acontecendo (nível do mar subindo, desertificação, eventos extremos), o que está prestes a acontecer (colapsos em cadeia), e o que ainda podemos evitar — se agirmos ontem.
Claro que os gráficos assustam quem lê o relatório inteiro, mas as reações a eles se alternam entre espanto, negação e um discreto bocejo climático, quiçá engajamento! Faltando o megafone da política pública efetiva gerando ação efetiva.
O risco da COP virar performance
Às vezes, o perigo não é a ausência de ação, mas a ilusão de ação.
Há perigo da COP virar uma grande feira de sustentabilidade cenográfica, onde o conteúdo cede lugar ao impacto visual com pavilhões espetaculares, totens instagramáveis, brindes de papel semente e muito marketing verde — tudo impecavelmente sustentável…
Esse fenômeno é chamado, por alguns, de green talk overload — excesso de fala verde sem prática equivalente. E se prestarmos atenção além das palmas a floresta continua ouvindo motosserras.
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Para Além da COP: O que Cada Pessoa Pode Fazer
Cuidar do próprio impacto
Pode parecer pouco diante das decisões globais, mas cada gesto individual carrega um peso simbólico e real. Economizar energia, repensar o uso do carro, consumir de forma mais consciente, separar o lixo — essas são pequenas ações com potência multiplicadora.
Além disso, há uma dimensão pedagógica no exemplo cotidiano.
Uma criança que vê alguém plantar uma muda ou recusar um copo plástico entende mais sobre ecologia do que num parágrafo técnico. São sementes silenciosas. Mas brotam.
Cobrar, votar, participar
Mudança climática não se resolve só com hábitos — ela exige sistemas inteiros repensados.
E isso passa por política com P bem grande. A boa notícia? O clima também vota. Não com título de eleitor, mas com a sua mão.
As COPs são eventos multilaterais, mas a força das ruas (ou das redes) muitas vezes influencia decisões lá dentro. O planeta não tem assessoria de imprensa, mas tem você.
E cada vez que alguém se informa, compartilha, questiona, ocupa espaços — mesmo que seja comentando num post ou votando consciente — a atmosfera política muda um pouquinho.
Criar e imaginar futuros possíveis
Aqui mora um dos poderes mais sutis — e mais esquecidos — da transformação: a imaginação. A crise climática também é uma crise de imaginação coletiva, no sentido
Ficamos presos entre o medo do colapso e o apego aos velhos modelos — sem conseguir visualizar alternativas reais, sensíveis, possíveis.
Por isso, imaginar novos modos de vida — com mais justiça, menos desperdício, mais natureza, menos pressa e mais chão — é uma prática política.
Sonhar é um ato de resistência.
E compartilhar sonhos é um convite para que outros se somem a nós.
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Conclusão
A COP é importante — mas não suficiente
Ela é espaço de negociação global, sim. Mas não resolve tudo. Se fosse mágica, já estaríamos em outro clima (literalmente).
A maratona é coletiva, e ainda há fôlego
Ainda dá tempo. Mas é preciso correr juntos — e não só nos eventos. As soluções não virão só de cima, mas também das raízes.
Entre a conferência e a ação, um passo decisivo
A cada COP, o planeta espera menos discurso e mais atitude. E nós, como corredores dessa causa comum, podemos começar com um passo firme e consciente.